Al Qabri Ramos
Nesta prece
É quando as palavras se calam que se ouvem os rumores do mar,
e se agigantam as ondas; nesse momento eu sei que
ainda não sei te esquecer
(apago-te as palavras, em prece)
quando as sílabas adormecem encostadas à língua,
quando os sentidos se deixam embalar pelas águas frias,
quando os pescadores se ocultam nas redes
que me vêm fomes de ti que se transformam em sedes e sebes;
nesse momento sei que estou longe de em mim te perder.
escondo-me dos silêncios, em prece
quando a maré brava te implora e o céu te grita e o meu coração te chora,
que acabo por descobrir que te escondi em mim,
(distorço-te, ainda em prece)
labirintos da espuma do teu beijo, de madeira os passadiços,
chovo e gargalho e adivinho-te inquieto; nunca saberás partir;
tenho-te tatuado dentro, interno, feitiço.
E de tudo, meu amor, de tudo isso é o que tenho mais lamentado.
Agradece a Yemanjá, ao Papa, ao Ghandi ao Buda ou a Avalon,
Que me dão a clarividência de saber dizer não, não,
ainda sei ocupar o meu pedaço de chão.
A custo, de joelhos e em prece.
E é quando o mar ou o silêncio me falam de ti dizendo que não existes
que te desacredito e em prece, os acredito, desejosa de lhes dar razão.
Não, não existes meu amor. Só nesta prece.
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sentidos despertos