Amália Rodrigues
Da fome e do medo
Ela vem, estejas ou não consciente e arranca-te um grito,
rompe-te a noite, o útero, o frigorífico e todas as coisas
onde há criaturas de oxigénio.
Busca-te ainda que te escondas, encontra-te em todos os
buracos em que sintas abrigo,
bebe-te devora-te, traga-te, roubando-te o viço,
despejando em ti toda a sujidade que há.
Na fome, o que é legitimo é também sujo, conspurcado.
Abres os olhos e uma boca de dentes pontiagudos rasga-te e tombas.
Depois de saciar-se, finge-se de morta até que a claridade
Na fome, o que é legitimo é também sujo, conspurcado.
Abres os olhos e uma boca de dentes pontiagudos rasga-te e tombas.
Depois de saciar-se, finge-se de morta até que a claridade
crie em ti a ilusão da eternidade.
E é nas trevas, pelas trevas que se insinua.
E aqui neste beco escuro, nasce a outra pulsão que conheces por medo.
E é nas trevas, pelas trevas que se insinua.
E aqui neste beco escuro, nasce a outra pulsão que conheces por medo.
E refugias-te dentro de ti, lá dentro onde há luz.
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sentidos despertos