Acreditar é preciso, seja no Papa ou na Coca-cola





Andamos bué de preocupados com a crise, mas há quem nos queira mais ocupados ainda. E inventa mais tragédias, como se não ter dinheiro pró dia-a-dia não fosse mau o suficiente! Então, "há-que-deus-que" vamos morrer aos magotes (já não andamos a morrer desde que nascemos?) vítimas de pneumonias, de sida e de cancro de útero. Morremos é todos os dias, de solidão, de desespero, de raiva, de injustiças sociais, morremos cada vez que vemos golfinhos esquartejados e mulheres apedrejadas pelas questões culturais, homens vítimas de cadeira elétrica e injeção letal, em corredores de medo. Morremos todos os dias e renascemos também, quando uma criança nasce, quando assistimos a gestos humanos cada vez mais raros, quando os nossos amigos nos telefonam, quando espirramos e não se afastam de nós, recorrendo a discriminação ;)! Precisados estamos é de restabelecer e reajustar a ordem natural das coisas. Chega de manifs e atentados e petições da tanga. Arregaçar as mangas prá consciência e mais nada deve ser a receita por onde começar.

Tenho uma amiga do peito, a Claúdia, sujeita a várias cirurgias um ano depois de ter nascido a Laura. Entre quimio's e radio's, entre ressonâncias e tac's, com e sem contraste, anda ela há aproximadamente 8 anos. A Laura tem a idade do Tomás, a força da mãe e a vontade do Peter Pan. Há 3 semanas falamos. Ela tem quintinha em Moita dos Ferreiros. Perto da Areia Branca. Estava por lá (agora passa o tempo quase todo cá em cima, na Madalena, junto da mãe, para ter ajuda com a menina nos difíceis momentos pós cirurgias e pós tratamentos) a jardinar, a matar saudades dos animais e das plantas.

Disse-me ela: quando voltar ao Porto, ligo-te pra almoçarmos juntas. Tenho de ir até aí um fim de semana. Faz bem à Laura. Concordei. Fiquei contente. Depois disse-me: tenho consulta marcada pra saber dos exames de rotina que fiz. Parece que a mancha desapareceu. Ou regrediu.

Afinal, a Claudia, agora está em casa, não fala com ninguém, não leva a Laura à escolinha, porque a equipa médica lhe disse há uma semana atrás que os esforços haviam sido em vão, que se preparasse para o pior, que preparasse tudo, que se despedisse de família e amigos, que aumentariam a cortisona e que a vida estava a chegar ao fim.

Esta moçoila, a minha Claúdia é um pedaço de magia. E não entendo como podem dizer isto a uma pessoa que anda há 8 anos a lutar contra um cancro e que só se tem mantido de pé porque lhe dizem que há-de conseguir. Porque precisa de acreditar que pode continuar a ver a filha crescer...

Afinal, um cancro na cabeça é fatal e pode ser combatido durante anos e permanecer com vontade própria. Afinal, o H1n1 chega aos pulmões e anula a vida em pouco mais de duas semanas. Afinal, andamos a correr na vida pra fugir à morte e ela faz parte do ciclo.

Vi a entrevista do António Peres na Rtp1 e depois vi o filme: My sister's keeper.

O amor não salva, mas ajuda. E acreditar na cura, também, mas não chega. Não há malabarismos, nem milagres, mas temos de acreditar em alguma coisa. E eu só acredito que se morre mais um pouco quando morre um amigo!

Comentários

  1. Texto forte! E concordo contigo... morre-se mais um pouco, quando nos morre um amigo.


    Beijo meu.

    ResponderEliminar
  2. Obrigd Graça
    Continuação de boas encenações

    ResponderEliminar
  3. com estas mortes ficamos como sabemos! bj cpf

    ResponderEliminar
  4. sim mas o tempo não pára nem espera que nos recomponhamos. Bj Peres

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

sentidos despertos